Poaia, ipeca, ipecacuanha. A mata de poaia e os poaeiros do Mato Grosso - Thieblot, Marcel Jules
“Cerradão, mata de brejo não tem poaia. A mata preta levantada é lugar de poaia porque é só mata virgem”.
A vegetação se reparte em dois andares. O mais alto é composto de árvores onde dominam o angico, o jatobá, a ipeúva (ipê), araputanga (mogno), o guatambu (peroba), o tamburi (enterrolobium contortisiliquum), o biguazeiro de tronco branco e flores amarelas. As palmeiras são o acurirrolobium (Attalea princeps, Mart.), o abacava ou açaí (Euterpes edulis) que dá o palmito.
“O mato inferior é sujo: tem bambuzal, branquilho, açaizeiro... A praga dessa floresta é o taquaruçu, uma taquara de vários metros cheia de espinhos que se entre mescla na vegetação rasteira. Existe também junto com a poaia, outra planta parecida, chamada poaia da índia, mais grossa. Também toda mata de poaia tem esse mato perigoso, o capim navalha: aquilo esbarrou, cortou”.
É no meio desse matagal de bambus, ananazinhos e espinhos que se localizam os capões de poaia. São canteiros naturais, formados por numerosos pés. A planta não passa de 25 ou 30 cm de altura, mas ela sempre se arrasta um pouco, de forma que o caule atinge uns 40 cm. As folhas são opostas, de um verde vivo. As flores branca arroxeadas, de um centímetro, dão nascença a um cartuchinho de sementes vermelhas. Mas é a raiz que interessa ao poaieiro. É uma raiz preta por fora e branca por dentro, formada de anéis bem juntinhos. O trabalho consiste em descobrir e arrancar essa raiz de 20 a 30 cm de comprimento que corre horizontalmente debaixo da terra. Extraída a raiz, o caule fica no chão e volta a brotar. Qualquer pedaço de raiz que também fique, volta a dar um novo pé. Por ser muito mais fácil mexer com a planta quando a terra está molhada, é costume “poaiar” no tempo de chuva.
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