Frederico
Sellow foi um dos maiores naturalistas do século XIX. Coletou minerais, animais
e plantas, além de realizar levantamentos geográficos e fazer pesquisas
geológicas. Escreveu no seu diário a seguinte nota sobre seu trabalho: “Para
poder dar conta da procedência, porte, colorido das flores, o botânico é
obrigado a colher o seu material pessoalmente. Por
isso, luta com maiores
dificuldades do que o zoólogo. Nem sempre quando descobre uma planta
interessante a encontra com flores e quando isso acontece ele constata, muitas
vezes, que elas apenas também não bastam para resolver as dificuldades da
classificação. Outras vezes, encontrando outra em frutificação, descobre também
que com os frutos, ramos e folhas igualmente não têm elementos bastante para
chegar a um resultado satisfatório”. Isto temos confirmado bastante vezes pela
experiência pessoal quando, embrenhado nas florestas e nos campos, realizamos
colheitas de espécimes. A experiência é de todos os botânicos que trabalham
extramuros, mas muito maiores devem ser as dificuldades dos fitologistas que
apenas lidam com espécimes secos dos herbários. Desconhecendo as matas e os
campos naturais, eles passam, porém, a criticar e a censurar aos que coligiram
os espécimes e que às pressas tiveram de etiquetá-los. Para este detalhe também
o citado botânico tem no seu diário outro registro importante. Falando dos
trabalhos do naturalista do campo e especialmente do botânico, ele escreveu: “E
quando a colheita e o preparo do material têm de ser feitos numa época chuvosa,
quando os dias de chuva se sucedem durante muito tempo, ou ainda quando se está
acampado numa sombria e úmida floresta, onde tudo embolora e apodrece antes de
poder ser guardado, então é que se leva a paciência e a resignação do botânico
a mais dura prova”.
Nos
conhecemos isto de experiência. Ainda agora de depois de passados quase 40 anos,
chegamos a sonhar com os dias de semelhantes dificuldades que tivemos em Mato
Grosso. As prensas cheias de material preciosos, com imenso empenho conseguidos
nas viagens fluviais, nos pântanos pestíferos e nas sombrias matas, colocados
num ângulo do toldo que se encolhe e forma brejos com água de chuva acumulada e
o tão ansiosamente esperado raio de sol não aparece durante cinco ou dez dias
seguidos. Secar o material ao calor do fogo torna-se inviável, devido carências
de espaço sob o acanhado toldo. Finalmente, quando as nuvens desaparecem e o
sol surge irradiante, abrindo-se as pressas, para mudar os papeis pelos que ao
sol foram aquecidos, constata-se com tristeza que tudo está embolorado, podre e
desarticulado.
Tornar a
colher material é impossível, porque a tropa está pronta para receber as
cangalhas para o prosseguimento do programa de viagem preestabelecido. Nas
viagens fluviais, onde os acampamentos sempre têm de ser feito na sobra das
matas ribeirinhas úmidas, o drama torna-se ainda mais impressionante, visto que
se para apenas para pernoitar ou para almoçar, quando também se precisa fazer a
colheita do que estiver florido ou frutificado nas proximidades.
Bibliografia:
Relatório do Instituto de Botânica- F.C. Hoehne – Diretor do Inst. de Botânica
de São Paulo -
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