As mais
antigas referências sobre o uso de plantas medicinais, no Ceará, estão
registradas como observações suplementares em alguns verbetes da “Coleção
Descriptiva das Plantas da Capitania do Ceará”. Escrita entre os anos de 1803 e
1805 por João da Sylva Feijó (1760-1824), cognominado naturalista Feijó, foi
divulgada apenas em 1818, depois ter sido considerada perdida durante vários
anos. Recentemente, Geraldo Nobre reproduziu em edição comentada o trabalho de
Feijó, facilitando o acesso a descrições de uma centena e meia de espécies e
referência ao uso medicinal de, pelo vinte delas.
Destas
espécies, as sete citadas a seguir, merecem destaque especial pela permanência
quase imutável de suas indicações terapêuticas ao longo de quase dois séculos
de uso na medicina fitoterápica popular regional.
1 – Baerhavia coccínea Will (pega pinto ou batata
de porco). Esta planta e uma pequena erva anual de ramos pegajosos, longos,
finos e graciosamente dispostos. Sua raiz tuberosa, fusiforme e amilácea têm
sido usadas para preparação de um macerado aquoso, levemente fermentado,
conhecido no Nordeste pelo nome de aluá, que é muito consumido, mesmo
atualmente, como bebida refrescante dita diurética e desobstruente do fígado.
2 – Lippia citriodora, H.B.K (erva
cidreira). Esta designação botânica corresponde a um tipo
de erva cidreira mais
comum no sul do Brasil, descrita hoje sob a denominação de Aloysia triphyllat (L.Herit) Britt cuja presença no Ceará é
duvidosa. No Nordeste são conhecidas, atualmente, pelo nome de erva-cidreira,
duas outras espécies de Lippia, L.
geminatta H.B.K e Lippia alba Browwn
ET H.B.K. As três tem o mesmo aroma característico do citral, responsável por
sua denominação popular. A propriedade antidispéptica, assinalada nesta planta
pelo naturalista Feijó, é referida, também, nos relatos populares de hoje,
sendo-lhe atribuída ainda a indicação de calmante, talvez por analogia com a
erva-cidreira verdadeira que corresponde a Melissa
officinalis L. e cujo aroma é semelhante.
Erva cidreira |
3 – Comelina nudiflora, L. (= C. comunis Vell) (marianinha). Pequena
erva cosmopolita tropical, citada desde então como planta diurética. Esta propriedade
é atribuída também, a várias outras espécies da mesma família, inclusive a C.deficiens, Kunth, conhecida como erva
mijona ou trapoeraba e C.virginica,
Rit, de nome popular Maria mole ou trapoeraba azul.
4 – Scoparia dulcis,
L. (vassourinha) referida por Feijó, com o mesmo nome científico e popular
empregado atualmente . recebe ainda o sinônimo “tupiçaba”. O cozimento
preparado com suas raízes tem sido recomendado, ao longo do tempo, no
tratamento caseiro da tosse, embora, numerosas outras indicações terapêuticas
desta planta sejam encontradas nos levantamentos etnobotânicos e
etnofarmacológicos.
CONTINUA
Bibliografia:
Revista Brasileira de Farmácia, 72(1): 21-24, 1991 – F.J. de Abreu Matos-Supervisor
do Horto de Plantas Medicinais. Universidade Federal do Ceará – Campus do Pici
60.750 – Fortaleza Ceará
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